Tradições

Todos os anos, no dia 17 de Janeiro, Vila Boa celebra a tradicional e pitoresca festa de Santo Antão. Outros eventos religiosos se celebram na aldeia, mas esta festa é, sem dúvida, a predilecta daquelas pessoas – e são muitas! – que valorizam acima de tudo as tradições. É por isso que, quer ela ocorra em dias úteis ou em fins-de-semana, a ermida faz-se sempre pequena para acolher todos os devotos deste Santo.

Sendo S. Antão o protector dos animais domésticos, ainda muita gente recorda, a “peregrinação” de agricultores, logo pela manhã, acompanhados pelos animais. O destino era a ermida de Santo Antão. Tratava-se não só de uma longa viagem, pois a ermida dista quase dois quilómetros da povoação, mas também de uma dura caminhada, visto que o acesso era muito húmido e cheio de lama, e à dureza do percurso se acrescentava, geralmente, o frio, a chuva ou a neve. Uma caminhada que se explica pela fé e pela devoção e que tinha como objectivo pedir a protecção e a intercessão do Santo para que resguardasse os animais das doenças. Em compensação, e aqui a tradição ainda é o que era, os agricultores oferecem ao santo os tradicionais pés de porco, sabiamente conservados em sal, e as compridas chouriças bem curtidas no fumeiro. As ofertas, chamadas de “janeiras”, são expostas na tarde do dia 17, no largo da praça, e são arrematadas pelo melhor lanço. As janeiras atingem, geralmente, valores elevados, não só porque o produto é de inigualável qualidade, mas também porque o dinheiro é para o Santo e se destina a financiar a festa.

O ponto alto da festa decorre, naturalmente, na ermida e começa logo na noite de 16 de Janeiro. O convívio prolonga-se até de madrugada, pelo menos para os mais corajosos, e chama cada vez mais gente ao terreiro para confraternizar.

No dia 17, a capela já não consegue acolher os inúmeros fiéis que querem cumprir a tradição de honrar Santo Antão. No fim da Eucaristia, segue-se a procissão, que é ainda mais participada.

Finda a celebração religiosa, os convivas distribuem-se pelas mesas, que entretanto se enchem das mais variadas e suculentas iguarias, mas, manda a tradição, que nunca deve faltar a famosa chouriça assada e o mais saboroso borrego ou o cabrito assado, tudo isto bem regado com o bom vinho novo, fruto das vinhas que ainda se cultivam na aldeia. O almoço, onde se repartem petiscos e amizade, decorre na mais harmoniosa confraternização.

Saciados os apetites, é a hora do acordeonista tocar em honra de Santo Antão, à volta da capela, sempre acompanhado pelos melhores cantores locais. Pouco depois, inicia-se o bailarico, onde novos e menos novos dão um pezinho de dança.

À tardinha regressa-se ao povoado, para o arrematar das janeiras e, à noite, começa o baile no salão de festas.

Ao longo dos anos, o essencial da festa tem-se mantido e os mordomos não têm poupado esforços para preservar e dinamizar as tradições. No entanto, muita coisa mudou, até porque a evolução dos tempos não permite coisas imutáveis. Os animais já não vão, pela manhã, em romaria ao terreiro. A neve já não aparece neste dia. As pessoas já não vão a pé por lamas e charcos, a banda já não se desloca em carros de bois ou em tractores agrícolas…

Hoje, o acesso está asfaltado e até os autocarros já chegam à ermida, que se transformou no mais belo e visitado espaço da aldeia.